sábado, 30 de outubro de 2010

Cap 4 - Beautiful ghost

Estava deitado na grama baixa, todo meu corpo pesava, não conseguia me mexer direito, abri os olhos e vi um céu azul coberto por varias nuvens, tinha luz, mas não via um sol, era como se a luz já existisse em tudo lá. Toda a vegetação lá era rasa com exceção de pequenas arvores e algumas pedras, tentei me levantar mas era como se vários carros estivessem em cima de mim, me arrastei para a pedra mais próxima, cheguei à pedra e encostei, era difícil mas tentava me manter acordado. Então vi uma garota de roupas pretas e uma fita em seu cabelo, minha visão estava falhando, agora tudo era um borrão, um vulto preto aparecera em minha frente.
— Coma essa maçã e tudo vai ficar melhor — disse o que parecia uma criança.
Comi a maçã, não era boa parecia estragada, cheia de areia e cascalho, engoli com muito custo, aquilo caiu no meu estômago como uma pedra, mas começava a me sentir melhor, meu corpo começou a ficar mais leve, minha visão começava a voltar, percebi que estava em uma espécie de montanha.
Procurei a criança que me ajudara não via quase nada além da montanha, grama, pedras e árvores, continuei procurando e então encontrei uma menina de mais ou menos dezesseis anos olhava para mim, seu sorriso era perfeito, seus cabelos negros só não chamavam mais a atenção do que seus olhos verdes como a grama a minha volta, ela usava uma roupa preta e uma fita em seu cabelo.
— Onde eu estou? — perguntei.
­Antes de eu terminar minha frase ela me abraçou, ela era pequena e muito leve, por esse motivo ela ficou pendurada em meu pescoço como um colar. Ela se afastou ainda com o sorriso em seu rosto, ela era linda, percebi que usava um par de brincos iguais ao solitário brinco que eu havia encontrado, percebi que o brinco que me levou para esse lugar estranho estava no meu bolso, como apareceu lá, não sabia, mas devia ser importante.
— Bom, as pessoas chamam isso de Limbo, outras de Purgatório, depende da cultura.
Levantei e olhei a minha volta, pelo que eu sabia o purgatório era um lugar para a purificação das almas entes delas irem para o céu, o lugar era lindo, era completamente diferente do que eu imaginava.
— Eu morri? — perguntei.
— Não, você não morreu, na verdade você é uma das poucas pessoas que consegue “visitar” o purgatório.
— Como funciona esse lugar?
— Existem cem andares, os primeiros vinte são os andares “infernais”, os últimos vinte são os andares “celestiais” e os outros sessenta andares são o purgatório. No momento que você morre você é levado a um dos andares do purgatórios, caso você conheça o motivo da sua morte você é julgado no mesmo instante, podendo ir ao inferno ou ao Paraíso, por outro lado caso você desconheça o motivo de sua morte você terá que aprender o motivo de sua morte, é pior parte, ela abaixou a cabeça, nos não podemos nos comunicar com seres humanos, então temos duas opções: A primeira é pedir a uma criatura antiga para descobrir o motivo de nossa morte, a criatura tem total liberdade para fazer o que quiser com a ou as pessoas responsáveis direta ou indiretamente com sua morte.
— Que tipo de criaturas?
Ela olhou para mim como se não acreditasse em o que eu estava falando, depois ela começou a formular uma resposta.
— Bem, vampiros, lobisomens, súcubos, ninfas, espectros, entre outros.
— E a segunda opção?
— A segunda opção é voltar ao mundo do mesmo jeito que morreu, procurando a pessoa que te matou por toda a eternidade. — ela suspirou ­— Você no meu caso é a primeira opção.
Meu coração gelou, ela havia feito um engano, eu era um humano, não podia ser como nos livros infanto-juvenis em que crianças que não tinham pouca ou nenhuma habilidade, descobriam que eram a “única esperança”. Eu era aquela pessoa comum não tinha nada de especial.
— Você fez um engano — avisei ­— Eu sou humano.
— Não, você não é humano, um humano não consegue tocar em um fantasma como eu, você conseguiu tocou, um humano também não consegue vir aqui ao purgatório sem estar morto, que também não é seu caso.
— O que eu sou?­— meu coração estava a mil, minha cabeça estava rodando com toda essa informação.
— Você, bem isso é um mistério, pelo que percebi você é um... — Seus lábios se moveram, mas não conseguia entender a palavra. —... Mas você tem o cheiro de um humano.
— Você pode repetir o que você acha que eu sou?
Ela falou, mas novamente não consegui entender, tentei fazer leitura labial, mas também não conseguia decifrar a palavra, soava como “Kesubnro”.
— Você não consegue me ouvir não — ela perguntou como se já soubesse a resposta.
— Não, e pelo visto você sabe o porquê.
— Parece que você está sobre um juramento­ ­— ela sorriu — você tem que descobrir por si mesmo o que você realmente é.
— Mas como vou descobrir isso?
— Você tem que descobrir por si mesmo, mas caso você me ajude em duas coisas, eu te falo onde encontrar a resposta — seu sorriso estava maior, como se ela tivesse um trunfo para minha assistência.
— O que você quer que eu faça?
— São duas coisas, uma relacionada com a outra, preciso que você a primeira é que você encontre minha irmã, a segunda é que você encontre o ou os responsáveis da minha morte.
Um grito ao longe me impediu de falar, uma mulher que aparentava ter trinta anos veio em minha direção correndo, usava salto alto, saia curta, e uma blusa extremamente decotada. Ela parou e olhou no fundo do meus olhos.
— Me ajude ­— sua voz lembrava aquelas cantoras texanas ­— você tem que achar o motivo da minha morte.
— Calma ai dona — disse a garota com um tom maldoso em sua voz ­— ele vai me ajudar primeiro.
­Ainda pensava o que eu era não era um vampiro, nem um lobisomem, isso eu tinha certeza. As duas começavam a trocar tapas quando voltei à realidade, fui em direção a elas e segurei a mão de cada uma.
— Eu ajudo as duas. Ok?
Ambas acenaram em afirmação com a cabeça. — Agora, por onde eu vou começar essa busca?
— Iremos dividir com você a nossa ultima memória, de quando éramos vivas. — disse a garota.
Nesse momento a mulher colocou sua mão em minha testa.
Estava andando por uma rua, era noite, as casas a minha volta brilhavam refletidas as luzes do poste, uma casa vermelha se destacava das demais. Olhava para as pessoas ao meu redor com desprezo. Meu nome era Margaret, tinha vinte anos e era uma prostituta. Andava pela rua quando avistei um homem, fui a sua direção, ele sorria e era muito bonito. Enquanto andava em sua direção vi alguns pivetes brincando com uma lata, cheguei perto dele, seu nome era Gustavo, ele mostrou o dinheiro, queria que eu fugisse com ele, de repente um grito, sangue escorria pelo meu rosto, confusão, o mundo virava um borrão, tudo se apagava, um homem agora agonizava em meu lado segurando minha mão, mas não tinha mais jeito, estava morta.
Suava frio, meu coração estava acelerado, olhava para meu rosto procurando o sangue, mas não encontrava a ferida, minha cabeça estava pesada, meus olhos estavam vermelhos, a grama ao redor de mim estava morta, a pedra onde eu escorava estava trincada, parte dela era apenas areia. Sentei no chão, vi que a mulher a minha estava desmaiada.
Demorei um pouco admito, mas consegui me recuperar, tudo fazia sentido agora, não era eu andando por aquela rua escura, mas sim aquela mulher que se encontrava bem a minha frente. Olhei diretamente para ela, era definitivamente ela, parecia um pouco mais velha e seus cabelos pareciam maiores, mas era ela, isso levantou mais uma questão, será que fantasmas envelheciam? Como minha curiosidade era meu ponto fraco não consegui me segurar.
— Fantasmas envelhecem? ­— perguntei a pequena aquela garota que assistia pacientemente tudo aquilo.
— Podemos mudar nossa idade aqui no purgatório, crescemos como pessoas normais, até que estejamos na idade que quisermos.
— Quantos anos você tem?
— Dezesseis anos, doze viva anos e quatro anos morta.
Fazia sentido, se ela quisesse alguém morta só podia ser por que essa pessoa podia ser morta, ou seja, ela não podia ter uma quantidade tão grande de anos morta, senão tudo aquilo era perda de tempo.
— Minha vez ­— disse a garota — quando eu apagar como aquela ali, você sairá daqui e voltará para sua casa, então procure pela casa vermelha perto da praça central e sempre leve o brinco em seu bolso.
Dizendo isso ela colocou sua mão em meu rosto, subitamente meu corpo começou a formigar e voltei a ficar tonto.
Era de manhã, brincava com minha irmã gêmea no quintal, meu nome era Tabatha, minha mãe estava sentada assistindo nossa brincadeira, parecia feliz, mas escondia alguma coisa por trás daquela felicidade, meu pai não estava lá, ele estava no bar tomando cerveja como de costume.
Brincamos até o almoço e depois até o anoitecer, com as barrigas recheadas de biscoitos macios que tinham acabado de sair do forno. Começava a ficar escuro demais para qualquer brincadeira então fomos para dentro da minha casa, uma casa grande e vermelha como as de bonecas. A cena então mudou, estava no meu quarto, ouvia gritos vindos de fora, um som de um revolver sendo carregado, meu coração começava a acelerar, um tiro silencioso, sem grito apenas o “psiut” da bala saindo do silenciador. Pensava em um jeito de sair, olhei para a janela do meu quarto, era no primeiro andar então eu não me machucaria muito, minha irmã pareceu entender minha idéia e começou a abrir a janela. Tentei levantar, mas no momento em que meus pés tocavam o chão outro “psiut” e agora minha irmã se encontrava morta no chão, virei para olhar quem a havia matado, e no momento em que meus olhos entrariam em contado com a pessoa, dois tiros um no meu estômago e outro em meu braço, meu corpo doía, apenas via um vulto vindo em minha direção tudo se apagava, tinha morrido.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Cap 3 - The Gift



The Gift        



Acordei, vi que estava no chão, levantei, meu corpo não doía mais, fui até o banheiro e olhei para o espelho, assustei quando vi que meu olho agora era verde vivo, as bandagens ainda cobriam o meu rosto deixando apenas meus olhos descobertos. Minha curiosidade aumentava a cada instante será que meu cabelo tinha mudado também? Não aguentei e tirei a bandagem, a medida que eu tirava minhas bandagens minha curiosidade só aumentava, quando toda a bandagem no meu rosto havia saído eu assustei com o resultado. Meu cabelo antes loiro, agora estava castanho, não me sentia diferente apesar disso,  ouvi vozes vindo da cozinha, lavei meu rosto para acordar e volte-me para a cozinha. Lá estava minha mãe, Carlos, Mirya, Marie e Claire, todos pareciam surpresos, mas acho que só por que meu olho e meu cabelo haviam mudado de cor, carregavam um bolo de aniversario nas mãos. Olhei para o calendário, começava a detestar aquele calendário, era uma terça-feira, dessa vez eu havia apagado por treze dias, o dia estava circulado no calendário e dentro daquele pequeno quadrado estava à letra “N” escrito e um desenho de um bolo de aniversário.
Para as pessoas que ainda não entenderam, meu nome é Nicholas, mas todos me chamavam de Nick. Era meu aniversário e como presente havia ganhado um novo rosto vindo de um fantasma ou um cadáver, ou seja, lá o que ela fosse.
Finalmente acordou dorminhocodisse Carlos ainda sério.
Bem, Feliz aniversário disseram todos em uníssono.
Obrigado­respondi.
A festa começou e todos queriam me contar como as férias estavam indo, Carlos estava em um curso de arqueologia e ia tentar o vestibular no ano que vem, ele estava muito mais serio que o normal, seu colar brilhava intensamente, um colar muito estranho que ele nunca tirava, era de prata polida com uma pequena pedra de um mineral raro que o pai dele escavou (uma família inteira de arqueólogos...).Claire e Marie estavam noivas e iam se casar no final de abril (cerca de 6 meses), iam tentar arquitetura no final do mês. Mirya estava tensa, como se ela quisesse falar algo comigo em particular, ela estava maravilhosa como sempre, mas seu rosto estava manchado como se ela estivesse chorando muito esses dias, ela fez um sinal mostrando o meu quarto, quase automaticamente fui em direção para meu quarto, mas antes de eu sair Carlos me puxou e me levou para a sala.
Então como foi com ela?nunca o vira tão serio em minha vida.
— Quem?
— A garota da árvore, quem mais seria.
— Como você sabe sobre ela?
— Você não me respondeu, como foi? — ele estava serio começava a me assustar.
­— Não consegui ouvi-la.
— Melhor assim — ele parecia aliviado — bem, então aproveite seu dia.
Me virei mas antes de sair ele me puxou mais uma vez, vi que ele mexia no seu bolso, então ele tirou uma pequena caixa preta.
— Seu presente — disse me entregando a caixa.
Abri, lá estava uma pedra, ela brilhava intensamente como se fosse uma lâmpada, era pequena mas muito bonita, agradeci e virei em direção ao quarto quando ouvi o Carlos sussurrar mais uma coisa.
— De todos aqui, o Mirya foi a que mais sofreu com seu apagão.
Pressentia que isso era verdade, sorri e agradeci mais uma vez, coloquei a pedra no meu bolso e fui em direção ao meu quarto, tentando ser o mais silencioso possível, via Carlos sorrir a medida que eu me distanciava, pensava o que ele queria dizer com o “Melhor assim”.
Cheguei ao meu quarto, Mirya olhava para o brinco um pouco assustada, não entendia o motivo, o brinco apenas me levou para uma espécie de mundo paralelo, com uma menina cadáver, nada de mais. Me aproximei dela, seu rosto era perfeito, seus cabelos tinham sidos cortados, mas ainda eram muito grandes, seus olhos brilhavam como um grande mar azul. Ela me olhou com aqueles grandes olhos azuis, uma lagrima escorreu pelo seu rosto, abaixei e limpei seu rosto com minha mão. Então nos beijamos, um beijo quente, apaixonado, me deixei levar por aquele beijo, quando dei por mim estava na minha cama com a Mirya abraçada ao meu lado, dei mais um beijo nela, ela me abraçou ainda mais forte, podíamos ouvir o balançar da cama no quarto ao lado, parecia que não éramos os únicos a aproveitar a noite.
Acordei, Mirya ainda me abraçava forte, comecei a pensar o quanto ela deveria ter sofrido com meu apagão, mas por mais que eu quisesse a fala do Carlos parecia gravada no fundo do meu cérebro, o que era melhor eu não saber? Porque ele estava tão serio sobre isso? E o principal, quem era aquela garota fantasma?
Todos esse pensamentos desapareceram por um instante quando Mirya acordava, ainda me abraçando e me dava um beijo de bom dia. Ela levantou e foi em direção ao banheiro, então voltei a ouvir o barulho da cama no quarto ao lado, pelos gritos percebo que eram Claire e Marie, fiquei lá pensando como deveria estar no quarto ao lado.
Então o brinco começou a brilhar, nem pensava mais nele, mas o fato dele estar brilhando daquele jeito era que a garota estava me chamando, “Logo agora” pensava. Então levantei, coloquei minhas roupas e fui e direção ao brinco, mas antes que eu chegasse perto Mirya saiu do banheiro e olhou diretamente para o brinco, ela riu, não entendi o porquê, então ela chegou perto de mim e disse com toda a calma do mundo:
— Boa sorte Nick.
Olhei para a ela e ela sorriu, não estava entendendo mais nada do que estava acontecendo ali, minha única certeza era de que ela e o Carlos escondiam alguma coisa.
Fui em direção ao brinco, ele brilhava mais a cada passo que eu dava em sua direção, quando o peguei, o mundo começou a ficar em preto e branco mais uma vez, e lá estava ela, a garota, olhando para mim com aqueles olhos verdes. Ela se aproximou chegou bem perto, não ficava mais assustado com sua podridão, então quando eu pensava que ela iria me surpreender de novo, quando eu achava que estava pronto pra qualquer coisa que ela pudesse fazer, ela faz a única coisa na qual eu não esperava que um cadáver/fantasma fizesse. Um beijo, frio como gelo, tudo a minha volta rodava e então apaguei.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Cap 2 - Come Back To Bed

CAP @ Demorei alguns minutos para voltar à realidade, já era noite, era estranho parecia que tinha passado cinco minutos, mas olhava para o relógio e não acreditava, sete horas lá e ninguém parou para me ajudar a levantar, ou estranhou o fato de ter um garoto de dezessete anos apagado no chão. Levantei e notei que a arvore estava seca, suas folhas tinham secado e caído e seus galhos antes cheios agora estavam desfolhados e contorcidos, era estranho vendo que estávamos entrando no verão. O brinco ainda estava em minha mão, ele queimava como carvão em brasa, mas eu ignorava. Meu corpo doía, minha cabeça rodava e não conseguia me concentrar. Tentei me levantar,
Tombei e caí de lado, minha mochila estava pesada, procurei algo para me apoiar e encontrei um galho mais baixo na árvore me joguei em direção ao galho, o agarrei com minha mão direita enquanto me equilibrava com a mão esquerda, uma cena ridícula, mas funcional. Qualquer um que me visse naquele momento ia achar que eu “comemorei de mais” o final de ano, andava apoiado no galho seco com as roupas rasgadas e segurando um brinco solitário na mão direita.
Cheguei a casa, peguei a chave que estava no meu bolso, destranquei e girei a maçaneta, mas quando fui entrar não agüentei e desmaiei com a porta aberta.
Ele vai acordar? disse uma voz feminina ao fundo. Era minha mãe, seu nome era Antonietta ela era baixa, tinha cabelos cor de mel e olhos castanhos, era muito generosa, mas ao mesmo tempo era direta e séria.
— Ele está fraco, ele só precisa descansar — disse outra voz feminina, essa mais jovial.
Tentei mover meu braço, mas ele estava pesado de mais, então abri os olhos, vi minha mãe sentada na cadeira com uma expressão preocupada, ao seu lado estava à médica da escola a Christine, muitos perguntavam como alguém tão bonita pedia gostar de cuidar de adolescentes de quinze a dezenove anos, mas ela adorava seu trabalho era seu sonho, isso a motivava em sua carreira. Ambas olhavam para mim espantadas, como se eu estivesse fazendo alguma coisa impossível.
Você está bem?­a voz dela era melhor que muitos remédios de tarja azul fazendo qualquer um ficar mais calmo.
Estou bemrespondi, mas minha cabeça ainda pesava.
Apenas descanse, e boa sorte com seu novo rosto.
Como assim? O que aconteceu com meu rosto?
Ela me entregou um espelho, então vi que meu rosto estava todo enfaixado, parecia uma múmia. Pelo visto minha queda ao entrar em casa tinha sido pior do que eu pensara. Comecei a procurar o brinco mas ele não estava mais na minha mão. O brinco estava em cima da mesa do outro lado da sala, sentei na cama e fiquei pensando no cadáver que me abraçara. Minha mãe levantou e foi em direção a cozinha, provavelmente para avisar ao meu pai que eu estava bem, meu pai dava aula em um internato a cerca de duzentos quilômetros da cidade, então era difícil para ele aparecer principalmente com os exames finais acontecendo lá, o meu pai era professor de física e sempre que tinha chance tentava me testar com desafios sobre eletricidade ou eletrostática que eu nunca acertava.
Olhei para o calendário e me assustei, era quarta-feira, fazia cinco dias que minhas aulas haviam acabado, o cansaço era muito grande então deitei de novo e quase instantaneamente apaguei.
Sonhei que estava naquela árvore, tudo em preto e branco de novo, a menina estava olhando fixamente para mim, já me acostumara com seu sorriso podre, ela começou a andar em minha direção, cada passo que ela dava tudo ao meu redor ficava mais frio, quando ela chego bem perto, cerca de dois passos eu comecei a tremer, era como se eu tivesse entrado em um freezer sem camisa (não tentem isso em casa), ela sussurrou algo em meu ouvido, mas não entendia, seus lábios se moviam, mas nenhum som saia deles, fiz o sinal de que não estava conseguindo escutá-la, não conseguia distinguir muito bem suas emoções, ela parecia triste, ou simplesmente queria me matar. Ela apontou para uma foto minha de alguns meses atrás, não sei de onde essa foto apareceu, mas lá estava ela presa na árvore. Do lado da foto estava um espelho, quando eu olhei para o espelho vi uma pessoa completamente diferente no reflexo meus cabelos loiros agora estavam quase castanhos  e meu olho antes castanho agora era verde, “Mas que porra é essa” pensei. A menina agora parecia rir, seu riso lembrava uma criança comum, na verdade se você tirasse o sangue e as partes podres e com fungos você via uma criança como as outras. Ela acenou, tudo foi sumindo e em questão de segundos estava no vazio.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Capitulo 1- GHOST

Lá estava eu na escola, a fala do professor como sempre era abafada pelas conversas paralelas comuns no cotidiano dessa escola. Olhava para o relógio esperando pacientemente esse tormento com o nome de aula acabar, ao meu lado duas meninas fofocavam sobre a noite passada, mas a frente um grupo de pessoas se adiantavam em seus exercícios escolares, o garoto a minha frente brincava com uma caneta fazendo desenhos de ossos e pás na mesa, atrás de mim outra menina dormia abraçada na mochila.
“Cinco minutos” pensava eu ainda olhado para o relógio. O tempo passava, mas o relógio parecia não querer mais se mover, encostei-me à cadeira virado para porta, esperando assim não encarar o trafico pós-sinal que sempre ocorria no final da aula. Vi que as pessoas também se preparavam para a saída, o professor que antes andava de um lado para o outro explicando a matéria, agora guardava suas coisas pronto para sair também. Dois minutos me separavam das férias, dois meses e meio sem estudos (ou mais afinal estava no terceiro ano), sem trabalhos e sem alguns alunos que realmente me deixavam com vontade de aparecer com algumas granadas de mão e simplesmente colocá-las goela a baixo de quase todos ali.
— Quase na hora — disse a menina logo atrás de mim, agora acordada — Finalmente vou descansar dessa escola.
 Você não acha que já descansou suficiente na aula não Mirya? disse o garoto que estava desenhando logo a minha frente. 
 Isso não é descanso é apenas um cochilo não concorda Nick?
Confirmei com a cabeça. Eu mesmo dormira em varias aulas esse ano, acho que era por isso que eu sempre corria para passar de ano, ao contrario de Mirya que apesar de dormir tanto quanto, ou até mais do que eu, sempre tirava boas notas. Vi que Carlos ia dizer alguma coisa, mas antes dele conseguir pronunciar a primeira sílaba o sinal soou como nunca antes naquela escola, acho que todos até a diretora, estavam felizes de acabar com aquele inferno.
A conversa me atrasara e o tumulto pós-sinal já havia começado, parei e sentei de volta na carteira esperando para que todos os dois mil alunos daquela escola começassem a sair por uma porta por onde saiam no Maximo cinco alunos por vez sendo que todos os alunos tinham que passar por uma catraca, atrasando ainda mais a saída. Mirya e Carlos também esperavam junto com as meninas ao meu lado que ainda fofocavam, agora sobre o que cada uma iria fazer nas férias, devo ter ouvido algo sobre um chalé ou coisa parecida, mas ignorei.
Agora éramos apenas cinco pessoas na sala, o resto estava preso no corredor porque um menino um pouco mais gordo que o normal tinha ficado preso em uma das catracas. Nos cinco andávamos sempre juntos, morávamos na mesma rua saiamos juntos nos finais de semana, fazíamos os trabalhos juntos só não dormíamos juntos, apesar de eu não ter nenhum problema em dormir com nenhuma das três, ficaria até feliz com isso.
 Ouvi que vocês duas vão para um chalé  disse Carlos para as duas ainda com a caneta na mão. A audição do Carlos às vezes me assustava, ele tinha minha altura era forte adorava arqueologia, apesar de eu achar que ele só gostava de cavar e achar ossos, seus olhos eram negros como bolas de gude combinavam com seus cabelos também negros, apesar de meio assustador ele era o meu melhor amigo.
 Nós ganhamos em um concurso uma viagem para dois em um chalé a alguns quilômetros daqui — disse uma delas. Seus nomes eram Marie e Claire, eram muito parecidas, quase gêmeas, ambas era baixas, com cabelo ruivo, olhos castanhos, pele delicada, a única diferença entre elas era que uma tinha o cabelo cacheado e a outra um cabelo liso e muito longo.
Parei de prestar atenção na conversa por um instante para ver se já haviam feito progresso na saída. Parecia que eles já tinha tirado o garoto gordo da catraca, pois agora o corredor começava a esvaziar, mas ainda tinha muitos alunos para sair, então voltei a ouvir a conversa entre eles, não estava com nenhuma vontade de ouvir a Claire falar de como o chalé era lindo e de como ela consegui o prêmio depois de pegar a uma blusa x no lugar y. Apoiei na mesa e comecei a olhar para a janela e vi um grupo de alunos implicado com os mais novos, um casal trocando beijos apaixonados atrás da árvore e um grupo de meninas correndo do que parecia ser uma cobra. Continuei olhando quando vi algo que fez com que meu corpo congelasse uma garota de aproximadamente doze anos me olhava, seu corpo era braço como gelo, suas roupas esfarrapadas continham varias manchas de sangue, seus cabelos negros cobriam quase todo seu rosto, com exceção de seus olhos verdes brilhantes, estava descalça e usava uma pequena fita em seu cabelo. As pessoas passavam por ela sem notá-la, como se não tivesse nada ali. Ela levantou seu braço e apontou para mim, depois apontou para a árvore onde o casal minutos atrás estavam seus lábios secos se moveram como se estivesse querendo me dizer alguma coisa, mas não ouvia nada. Um grupo e pessoas passou a frente dela, e do jeito que ela veio do nada, ela desapareceu.
Você está bem Nick?Disse Mirya, me acordando para a realidade.
— E... eu estou.
Suava frio, meu corpo estava duro e meus olhos vidrados onde antes estava aquela menina. Todos olhavam para mim assustados, percebi que segurava um pedaço da mesa onde estava apoiado, a mesa, ou o que sobrou dela, estava podre como se tivesse ficado anos sem uso em um armário úmido, a luz perto de onde eu estava era mais fraca que a luz das outras lâmpadas, a janela estava trincada e sua armação de ferro estava enferrujada, era como se tudo em volta de mim tivesse envelhecido anos.
O que foi isso? disseram todos em uníssono.
Não sabia o que dizer, a minha garganta estava seca, a única coisa que eu queria fazer naquele momento era sair correndo em direção aquela árvore e procurar seja lá o que for. Todos me olhavam esperando uma resposta, de todos Mirya era a mais assustada, seus olhos azuis me olhavam com muito espanto. Mirya foi umas das primeiras pessoas que eu conheci, seus cabelos castanhos eram grandes cobrindo suas costas, ela era a pessoa mais linda do colégio, pelo menos de acordo com o anuário escolar, ela era gentil, carinhosa, inteligente e extremamente atlética, seu único defeito era sua preguiça em sala, a aula não era a mesma se ela não estivesse cochilando abraçada em sua mochila.
Precisava sair de lá naquela árvore, queria saber o que quem era ela e por que apenas eu conseguia vê-la. Levantei ignorando meus colegas e fui em direção ao corredor, a maioria dos alunos á haviam saído e os poucos que ainda estavam lá seguiam pacientemente na fila, o garoto gordo que estivera preso se encontrava com a médica da escola que tratava de um hematoma do tamanho de um punho no estômago do garoto. Passei por eles e furei a fila para sair logo, no momento em que saí fui puxado por alguém, era o Carlos, era impressionante como ele era rápido. Ele me olhou com uma expressão séria fazendo que ele ficasse mais assustador do que ele parecia. Ele me puxou para o canto e olhou em volta para ver se tinha alguma coisa por perto.
O que você viu? — sua seriedade me assustou.
Nada menti.
Nada não faz alguém sair com essa velocidade da sala ignorando a todos.
Era verdade, mas não queria intrometer ninguém nisso, então menti falando que vi um valentão bater em duas garotas aqui e que ele precisava de uma lição, mas que ele fugiu a me ver. Uma mentira ridícula, mas o Carlos pareceu acreditar, ele virou e respirou fundo, olhou pra mim como se soubesse o que eu estava pensando.
— Ok, só tome cuidado.
Me senti péssimo em mentir, mas era preciso, não queria que nada acontecesse com meus amigos. Virei-me e fui em direção a árvore, mas a centímetros dela Mirya apareceu e me chamou, não podia ignorá-la, pelo menos não com o Carlos lá olhando. Fui em direção a Mirya como se nada estivesse acontecendo ela parecia preocupada, então ela chegou bem perto e murmurou em meu ouvido.
— Cuidado com os fantasmas.
Meu coração parou por alguns instantes. Como assim cuidado? Porque ela estava falando aquilo naquele instante? Tentei manter a calma, mas já era tarde ela percebera que eu estava escondendo alguma coisa.
Então vamos para casa os outros já estão indo só falta à gente ela disse de uma forma muito calma, me deixando a vontade, era impressionante como ela boa em acalmar as pessoas.
Eu já vou só preciso checar uma coisa com um professor — menti de novo, afinal eu ainda tinha que olhar para aquela árvore, saber o que estava acontecendo.
Entendi, mas tarde você podia passar na padaria para um lanche e uma ajuda pro meu pai.
Mirya era filha de um padeiro e por esse motivo ela morava em cima de uma padaria, o pai dela me adorava apenas porque eu fazia os pães franceses sempre que ele precisava. Ela saiu e foi em direção ao portão principal da escola, esperei perde-la de vista antes de ir em direção a árvore, olhei para ver se o Carlos também ainda estava por ali, nenhum sinal dele em lugar nenhum, cheguei na árvore, ela era enorme tinha cerca de duzentos anos que ela estava lá  e procurei por algum sinal, qualquer coisa que explicasse o que acontecera na sala.
Quando já ia perdendo as esperanças vi aquilo que parecia um pequeno brinco, estava muito sujo, parecendo que estava lá fazia cinco ou seis anos. Agachei e peguei o brinco, ele estava frio, tinha uma pequena gema dentro dela, no momento que eu olhei para aquela gema meu corpo congelou, tudo a minha volta ficou em preto e branco e logo ao meu lado estava a garota com as mesmas roupas manchadas de sangue e os mesmos olhos verdes que pareciam me fuzilar. Ela sorriu, um sorriso quente se não fosse o fato de seus dentes estarem podres, fazendo com que o sorriso parecesse um pouco assustador, então ela fez a única coisa que eu não esperava. Um abraço, seu corpo era gelado, tentei me soltar mas ela não soltava, então ela se afastou, piscou com seu olhos verdes e pronunciou algo que não pude entender e desapareceu. Fiquei lá sentado na árvore olhando pro vazio perguntando  o que acabara de acontecer.





Caso tenha algum erro ortográfico, favor comentar.