quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Cap 8 - A gift or a curse

Entramos na casa, ela parecia uma casa normal, mas quando passei perto do quarto onde vivia Tabatha e senti um calafrio, um cheiro de sangue me envolvia, como uma névoa. O lugar era estranho, várias fotos da família, mas nenhuma com o marido procurei em toda parte, mas nada, apenas fotos das três.
Ela me ajudou a sentar, minha perna não doía mais, mas fingia a dor para continuar a procurar qualquer coisa, apenas uma prova já seria o bastante, ela tratava da minha perna machucada como uma medica, ela estava quase terminando de enfaixar minha perna quando decidi falar alguma coisa.
— Obrigado por me ajudar.
— Não tem de que garoto — sua voz me arrepiava, era muito fina — meu nome é Marlene, e o seu?
— Cornélio — menti.
— Ok Cornélio, você quer alguma coisa para beber? — ela parecia acreditar — leite quente, café, água?
— Só água está bom.
Ela se virou e foi em direção a cozinha, sabia que aquela era minha chance, fui em direção a porta onde eu vira a irmã da Tabatha, mas ela estava trancada, a chave se encontrava do outro lado da sala. Tentando ser o mais silencioso possível, fui em direção a chave, uma voz ao fundo cantarolava uma bela musica de melodia simples, mas muito bonita. Ignorei a canção e peguei a chave, comecei a voltar para a porta quando ouvi o barulho de passos vindo em minha direção, fui rápido e sentei na cadeira, como se nada estivesse acontecendo, à medida que ela se aproximava uma cortina de névoa começava a envolver a porta, do quarto do cadáver, era uma névoa fina parecendo aquela de gelo seco.
Eu sabia que aquilo era estranho, mas relevei, os passos ficaram mais altos, a névoa já cobria meus pés, o mundo parecia ficar mais frio, aquilo parecia um presságio, algo ruim iria acontecer e eu ia acabar sofrendo com isso.
— Em que você estava bisbilhotando? — era Marlene, ela carregava uma faca daquelas de açougueiro em uma mão e um martelo de amassar carne no outro. A palavra “Fudeu” não saia da minha cabeça.
— Você é um deles, não vou deixar você fugir com elas, elas são minhas — enquanto ela falava o martelo batia na mesa a centímetros da minha mão — eu vou te matar, pobre garoto.
Ela desceu o martelo com uma força absurda, desviei e vi um buraco abrir na cadeira, ela virou a faca cortando superficialmente meu braço, não saiu sangue, mas rasgou a minha blusa. Ela parecia preparada, não abria brechas, antes de eu conseguir atacá-la ela batia em mim com aquele martelo, mas por mais que ela batesse meus ossos não quebravam. A névoa agora chegava aos meus ombros, eu sabia que se continuasse assim eu não conseguiria enxergá-la. Minha única esperança era tentar apodrecer as coisas, como eu havia feito em algumas outras ocasiões, mas isso tinha um problema, como eu ia fazer isso. Procurei no fundo da minha mente algo que me fizesse usar esse poder, mas nada, estava perdendo o foco da luta, meu braço agora estava com vários cortes e ela preparava uma martelada bem na minha cabeça. Tentei escapar, mas já era tarde, o martelo atingiu em cheio a minha cabeça, eu tombei para o lado, e desmaiei.
Acordei e estava em uma sala, estava em perfeito estado, logo a minha frente se encontravam duas pessoas, um casal para ser mais especifico. Ambos tinham cabelos castanhos e olhos verdes, eles apontaram para mim e murmuraram palavras sem sentido. Olhei para a minha mão e vi que agora usava uma luva, uma luva negra com desenhos tribais, uma pequena pedra negra se encontrava no centro da minha mão. O casal começou a desaparecer, tentei andar em direção a eles, mas quanto mais perto eu chegava mais eles iam desaparecendo. Eles sorriram e desapareceram em uma chuva de pó.
Tudo se escurecia de novo, Tabatha estava no meu lado, ela sorria e tentava falar algo comigo, mas suas palavras não tinham sentido, por mais que eu prestasse atenção era como se eu não ouvisse nada. O mundo começava a clarear, estava em um quarto, um cadáver me olhava atentamente, era a irmã de Tabatha, isso só podia significar uma coisa, estava no quarto do primeiro andar. Olhei a minha volta e vi que estava em um tanque de formol, não me pergunte por que eu não sentia nada, ou como eu conseguia respirar, eu simplesmente conseguia, olhei para minha mão e vi que usava as luvas do meu sonho, tentei dar um soco no vidro, no momento em que eu toquei nele o vidro explodiu, uma explosão sem som, mas com muita bagunça. Formol inundava todo o quarto, a irmã da Tabatha continuava a olhar para mim em silêncio, eu sabia que ela não podia falar nada, mas porque ela tinha que me olhar e me seguir?
Olhava em volta procurando um interruptor estava perto da porta, fui em direção a ela e liguei o interruptor, acreditem todos, o lugar era assustador, tinha sangue em todos os lados, as paredes estavam desbotadas, os brinquedos estavam cheios de poeira e teias de aranhas e no centro do quarto estavam dois tanques grandes. Fui em direção aos tanques, já pensava o que era, mas aquilo era errado, abri os tanques e lá estavam as duas pequenas garotas olhando em minha direção como se me seguissem aquilo era assustador, se já não bastasse o fato delas realmente estarem me seguindo, ver as duas mortas lá olhando fixamente para mim não era algo recomendável.
Comecei a fechar os tanques novamente quando ouvi uma fina voz atrás de mim, era Marlene ela estava assustada, como se estivesse vendo um fantasma, mas eu acho que depois de matar uma pessoa e colocá-la em um tanque de formol você não espera que essa pessoa comece a andar de novo.
— O que aconteceu com elas? — perguntei.
— Eu as matei — ela era fria em sua voz — peguei uma arma e atirei nelas e no meu marido — ela começou a ficar tensa — não podia deixar que o pai delas fizesse o que ele fez comigo, não podia deixar duas crianças serem violadas dessa maneira — ela começava a chorar — então roubei o revolver dele, coloquei o silenciador, e atirei nos três, mas não conseguia viver sem elas.
— Ai colocou as duas em formol.
— Exatamente, era minha única escolha.
— Você poderia não ter matado elas 
Ela riu, parecia que eu estava fazendo uma piada, sua risada era assustadora, sua voz fina apenas deixava mais horripilante. Ela veio em minha direção, com a faca em mãos, ela estava mais devagar, ou eu estava mais rápido, não tinha certeza, mesmo ela mais devagar ela ainda era perigosa com aquela faca. Comecei a pensar como era injusto o fato dela ter uma faca e eu nada, nesse momento a pedra da minha luva começou a brilhar, e uma pequena faca apareceu em minha mão, ela tinha um cabo negro e uma lamina vermelho sangue, ela brilhava de forma assustadora como se quisesse matar a primeira pessoa que a tocasse. Abaixei e enfiei a faca um pouco abaixo do coração dela, ela se assustou e deu um passo para trás, olhei espantado, o corpo dela começava a desintegrar como poeira. Encostei-me à parede, estava cansado, não conseguia me concentrar e a faca na minha mão começava a desintegrar. A mulher a minha frente estava viva, mas muito ferida, a pele estava podre no lugar onde eu tinha cortado.
A mulher agora gritava de dor, sai do quarto e liguei para a polícia, não queria matá-la, na verdade queria que ela fosse culpada justamente (ou não), a irmã de Tabatha olhava fixamente para mim sorrindo, ela sabia que eu estava fazendo a coisa certa.
Tudo ao meu redor começou a ficar em preto e branco, na minha frente aparecia Tabatha, ela radiava felicidade, sua irmã estava lá também sorrindo.
— Obrigada, agora você tem que cuidar do assassino da Margaret — Tabatha mal agüentava de tanta felicidade — só quando você ajudá-la nós poderemos ser julgadas.
— Você não ia me dar uma informação sobre mim?
— Só depois de você ajudar a Margaret.
Suspirei, tudo voltava a ter cor e ambas as garotas agora brincavam felizes enquanto desapareciam, tinha que descobrir o assassino de Margaret, mas antes tinha que sair de lá, tinha que fugir antes dos policiais chegarem.
Pulei pela janela, ignorei a cerca viva e atravessei, logo estava fora daquela casa infernal inundada de formol, percebi que a parte da cerca viva que eu tinha passado começava a murchar e morrer. Olhei para minha mão, as luvas ainda estavam lá. Seja o que for aquela luva salvou minha vida, tinha quase certeza que eram meus pais naquela sala escura, mas agora não era hora de pensar, era hora de correr. Escondi debaixo de uma ponte a três quadras de lá, no momento em que cheguei lá ouvi varia viaturas indo em direção a casa.

Cap 7 - The Girl From Yesterday

Minha cabeça doía quando voltava ao metrô, era Tabatha, eu sabia que ela estava com raiva de eu estar atrasado, mas não me importava, tinha feito uma coisa para uma grande amiga e não importa o quanto minha cabeça doesse, eu ia aguentar. Ela parecia entender isso, então minha cabeça começou a latejar, como se milhões dançarinos holandeses começassem a dançar com aqueles tamancos de madeira, e uma risada de criança ao fundo, como se ela se divertisse com isso.
Minha estação estava quase chegando, torcia para que ninguém me parasse de novo, não sei se ia aguentar a Tabatha brincado na minha cabeça, encostei minha cabeça na parede do vagão e comecei a tentar assimilar tudo àquilo que acontecia comigo, mas antes que eu pudesse começar uma voz familiar falou calmamente no meu ouvido.
— Agora fica até difícil de te reconhecer ­ — era Christine, ela estava diferente, sés cabelos antes loiros, agora eram negros, seus olhos continuavam verdes, mas agora tinham um brilho que me lembrava um veneno. Era uma mulher linda, tinha cerca de vinte e dois anos, você facilmente a confundiria com uma modelo, mas ela era apenas uma médica de escola.
— Gostou do meu presente? — ela disse com sua calma de sempre.
— Que presente?
— Você não percebeu? — ela perguntou com certa irritação — você sabe o que eu sou?
Suas unhas cresceram em volta do meu pescoço, eram muito afiadas, estavam a centímetros de arrancar meu pescoço fora, já aparecia um pequeno corte, com um filete de sangue escorrendo. Limpei o sangue com minha mão, olhei para as unhas dela, estavam como de uma pessoa normal, ela sorria um sorriso que assustava qualquer um.
— O que é você? — perguntei ainda limpando o sangue em minha mão.
— Sou uma súcubo — ela falou sorrindo, como se aquilo fosse à coisa mais normal do mundo.
Até onde eu sabia uma súcubo invadia os sonhos dos homens e tomava a forma de uma mulher maravilhosa, dependendo da pessoa também podia tomar a forma de um animal, ou uma criança (gosto é que nem cabelo tem gente que nem tem...), e tinha relações sexuais com a vitima, sugando sua energia vital. Isso era um problema, não queria passar noites e mais noites acordado com medo de que uma mulher maravilhosa sugue minhas energias vitais até a morte.
— Não se preocupe, não consigo invadir seus sonhos — ela disse como se lesse meus pensamentos, era a segunda vez que isso me ocorria, tinha que treinar minhas reações.
— Qual foi seu presente? — perguntei tentando mudar de assunto.
— Eu te recuperei logo depois que você conheceu a fantasma.
— Como assim?
— Você estava mudando, sua vida estava se esvaindo e você perdia muita energia, se eu não estivesse lá você provavelmente iria morrer.
Não sabia o que dizer, ela deve ter salvado a minha vida então apenas agradeci.
— Como assim você não consegue entrar em meus sonhos — tentava mais uma vez mudar de assunto que cada vez ficava mais desconfortável.
— Isso eu não sei, parece que tem um bloqueio — ela falava mais baixo agora.
Isso me aliviou um pouco, olhei para a porta esperando que ela se abrisse, afinal com toda essa conversa eu acabei chagando no meu ponto.
Dei um adeus a Christine e fui em direção a porta pensando como em dois dias quase todo mundo havia mudado, como tudo que conhecia estava mudando na bem na minha frente e eu lá, sem poder reagir.
Fui andando pelas ruas, guiado por Tabatha que fazia minha cabeça doer toda vez que eu errava a rua, logo cheguei a uma grande casa, ela estava desbotada, mas ainda era uma bela casa, um lote muito grande cercado por uma cerca viva muito alta, janelas enormes cobriam a casa tanto no primeiro quanto no segundo andar. Olhava deslumbrado para aquela casa quando senti um frio na espinha, vinha de algum lugar no primeiro andar, estava encoberto pela cerca viva procurei ao meu redor algo que eu pudesse subir para ver, achei uma árvore na casa da frente, subi nela e com algum custo, cheguei no topo. Congelei, na janela logo no primeiro andar, lá estava ela, uma menina de aproximadamente doze anos, seu pescoço estava com uma grande mancha de sangue, seus olhos verdes brilhavam intensamente, sua pele pálida estava em contraste com seus cabelos negros, ela olhava fixamente para mim, como se fosse me matar apenas com seu olhar. Quase instantaneamente minha cabeça começou a doer, lá no fundo comecei a ouvir uma voz, parecia Tabatha. “É ela, depois de tanto tempo e ela ainda está lá.”. Um barulho vindo da casa calou a Tabatha, desci rapidamente da árvore para que não me notassem. Escorreguei, cai e bati minha perna no chão, doeu muito, gritei, acho que todos na rua devem ter me escutado, o portão da casa vermelha se abriu, e uma senhora de aparentemente 36 anos abriu a porta, eu a reconheci, era a mãe de Tabatha, ela era muito bonita, seus olhos eram verdes como os de Tabatha, mas ela era loira. Ela olhou para mim preocupada, provavelmente por que eu tinha quebrado a perna, era o que parecia pelo menos. Ela me ajudou a entrar, enquanto entrava vi a irmã de Tabatha, por algum motivo ela não tirava os olhos de mim, seu sorriso era ao mesmo tempo confortante e amedrontador, como se ela quisesse me avisar alguma coisa, percebi que a mãe não a via, como se ela não estivesse lá.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Cap 6 - Why Don't Lesbians Love Me?

Peguei o metrô, procurava no fundo da minha mente quem eram os meus pais, nada me ocorria, nenhuma imagem, nenhuma lembrança, nada. Entrei no vagão e tive sorte de achar um lugar vago. Minha sorte acabou no momento em que eu vi quem estava no meu lado, lá estava Claire com uma expressão preocupada, usava uma saia curta e uma blusa que ganharia babas alheias de muitos homens, pena que ela era um “desperdício” para eles. Fora isso não via nenhuma diferença nela como vi na Mirya, mas seu anel de noivado estava reluzindo fortemente.
No momento em que ela me viu seu rosto mudou completamente, parecia que eu era sua esperança.
— Nick, era exatamente com você que eu queria falar — ela parecia aliviada.
— Sim?
— É um pedido complicado — ela mexia na sua saia parecendo desconfortável — é que, bem eu e a Marie estávamos conversando e, nós queremos ter um filho.
“Momento errado” pensava, era como se o mundo quisesse me atrasar aquele dia.
— E bem — ela continuou ignorando minha reação — como nós não podemos ter filhos, estávamos pensando se você podia... — ela abaixou a cabeça — doar um pouco de esperma para nós.
Não tinha como eu dizer não, convivi meus últimos três anos com Claire e Marie e apesar de tudo, acabei criando uma boa relação com elas. Lembrei-me do dia em que descobri que elas eram lésbicas, estávamos no ultimo horário, na aula de educação física, tinha dado uma fugida quando ouvi um barulho, fui em direção ao som com o Maximo de cuidado possível. Cheguei ao outro lado da escola e vi as duas, estavam deitadas na grama nuas se beijando, me escondi e esperei para ver se isso acontecia novamente (Tinha dezesseis anos, e vamos admitir duas mulheres nuas no chão era difícil de sua imaginação não agir), infelizmente elas começaram a colocar a roupa de novo. Deprimido voltei à aula um pouco depois delas, que agiam normalmente como se nada tivesse acontecido. Um ano se passou e eu já tinha esquecido o ocorrido, afinal elas não comentavam nada sobre isso, até em um dia logo no primeiro horário eu fingi passar mal para sair de sala, quando estava andando pelas dependências da escola desviando dos inspetores de corredor, dei de cara com uma sala vazia, no ultimo andar da escola. Lá estavam elas ambas nuas, com uma expressão de cansaço, fiquei com raiva, admito, duas mulheres tão bonitas, fazendo sexo em uma sala no ultimo andar, e eu tinha perdido, preferiria morrer na ignorância. Esperei que ambas colocassem as roupas antes de entrar na sala, no momento em que elas terminavam de colocar o uniforme eu entrei tentando ser o mais silencioso possível, sem que elas me notassem fui em direção a uma das carteiras e sentei, como se nada tivesse acontecendo, elas ainda não tinham me notado. Então perguntei, tentando parecer que eu tinha tirado um cochilo lá na sala (como fazia muitas vezes).
— O-o-oi, quem está ai? — perguntei.
Ambas estavam congeladas, como se não acreditassem que eu estava lá, mal estava aguentando, segurei a gargalhada, a cara delas era impagável, respirei fundo e esperei a resposta delas. Nenhuma resposta, elas ainda estavam lá paradas sérias, com medo de falar qualquer coisa, reforcei a pergunta
— Claire, Marie são vocês? Porque estão aqui?Porque vocês tinham que me acordar?
Nada, eu mal estava aguentando ficar sério, ia soltar uma gargalhada a qualquer momento. Marie começou a cochichar com Claire, elas ia tentar fugir, o que era ridículo, além de eu estar mais perto da porta eu era muito mais rápido que elas.
— Somos nós Nick estávamos te procurando, tem prova de matemática agora temos que ir para sala — Claire falava sem muita convicção.
— Mas hoje não tem aula de matemática.
Elas pareciam ainda mais desconfortáveis, não ia mais aguentar ficar sério, minha cabeça já doía de tanto segurar as risadas, eu sabia que elas iam falar a verdade, então uma gargalhada solitária escapou de mim, comecei a rir, elas não entendendo o porquê também começaram a rir, parecíamos três idiotas rindo lá. Respirei fundo e mudei completamente meu humor, fiquei sério e falei com toda minha calma — Por que vocês não contaram isso para nós antes?
— Não queríamos que achassem nada diferente de nós, vivemos em um mundo de preconceitos, temíamos perder nossa amizade com vocês.
— Não se preocupe guardo esse segredo desde o ano passado não vou falar para ninguém.
— Como assim sabe desde o ano passado?
Contei toda a história do ano passado, e como não contei a ninguém aquilo, elas pareciam ao mesmo tempo preocupadas, por eu saber sobre elas, e aliviadas por eu não ter contado.
— Por favor, não conte a ninguém sobre isso — ambas comentaram em uníssono.
— Não precisam se preocupar, não vou contar — nesse momento uma forte amizade crescia entre nós, arranjei um quarto na minha casa para que elas pudessem fazer o que quiserem sem ninguém incomodar. Sempre as apoiei afinal eu era a o único, os pais delas eram padres então não aceitavam esse tipo de compromisso, eles ás expulsaram de casa dois meses depois, eu e minha mãe acolhemos elas. Ambas trabalhavam até a noite e aproveitavam a madrugada, não me deixando dormir com os barulhos da cama.
Agora lá estava Claire me fazendo um pedido como esse, eu sabia que era errado, afinal não era humano, mas não podia dizer não, ela era uma das poucas pessoas que eu confiava e eu sabia que sua amizade com o Carlos não chegaria nem aos pés como sua amizade comigo, eu era sua única escolha.
— Ok, vamos até o banco de esperma.
Seus olhos brilhavam intensamente, ela era linda, seus cabelos ruivos longos, eram perfeitos, seu corpo era de rara perfeição e seus olhos castanhos brilhavam na luz fraca do vagão.
— Muito obrigada Nick, não sei como posso te agradecer por toda a ajuda e apoio que você deu a mim e a Marie — ela me puxou em direção a porta do vagão, saímos e fomos por um caminho estranho, nunca tinha ido naquela parte da cidade, as casas eram todas iguais, parecia um condomínio fechado. Fomos andando por alguns minutos, até acharmos uma casa branca com o letreiro “Banco de Esperma Double Ball”, eu ri, nunca tinha pensado que eles iam fazer disso uma coisa divertida. Cheguei lá e preenchi a ficha, nada de mais, apenas o padrão, entrei na salinha e recebi um copinho, duas revistas e um DVD, fiz o que deveria pensando nos bons momentos que tive com Mirya.
— Pronto — disse enquanto saia da salinha — agora é com vocês.
Ela me abraçou, um abraço apertado, eu tinha noção do que eu tinha feito, prometi a mim mesmo que se tudo desse certo e a criança nascesse eu ia contar para ela o que realmente ela, ou ele era (caso eu descobrisse). Seu rosto coberto de lagrimas molhava as mangas da minha blusa, eu a abracei, e ficamos lá abraçados, enquanto minha mente ficava perdida naqueles longos cabelos ruivos.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Cap 5 - American Witch

Acordei, estava na minha cama, minha verdadeira cama, tudo estava normal, exceto pelo turbilhão de pensamentos confusos e perguntas sem respostas que vinham a mim. Quem eu sou? Porque eu não consegui ouvir o que eu era? Como eu iria encontrar a irmã da garota? E o assassino da Margaret?
“Vou descobrir cada uma dessas respostas”, pensei “nem que tenha que arrancar a informação das pessoas” minha curiosidade fazia coisas impressionantes, odiava quando as pessoas falavam em enigmas de duplo-sentido, essas pessoas deviam ser queimadas vivas.
O brinco na minha mão começou a queimar, e dentro da minha cabeça ouvi uma voz familiar dizer “Não perca o foco”, era Tabatha, parecia que ela sabia o que eu estava pensando. Aquilo me deixava preocupado, e se eu não achasse o assassino, viveria com um fantasma colado nos meus pensamentos até minha morte, se é que eu morria, afinal não era humano.
Coloquei o brinco no meu bolso e fui em direção a porta, minha mãe não estava em casa, então bebi um copo de água, sentei na cadeira e tentei entender como as duas mulheres do purgatório haviam sido assassinadas. Comecei por Margaret, tentei me lembrar da rua, ela me era familiar, então me lembrei, a casa vermelha era a mesma onde a Tabatha vivia, e era perto da praça central. Isso era pouco, mas pelo menos eu tinha por onde começar. Olhei para o calendário com medo de mais dez dias terem passado, mas dessa vez o estrago não tinha sido tão grande, apenas dois dias tinham se passado. Dei uma ultima olhada naquela casa e prometi a mim mesmo que só voltaria para lá quando soubesse quem eu era.
Saí de casa, decidi passar pela padaria do pai da Mirya, não só para poder pegar um pouco de comida, mas também para dizer adeus. Chegando lá vi Mirya no caixa atendendo alguns pedidos, ela estava diferente, seus cabelos que antes chegavam as suas pernas agora mal passavam do seu ombro, seus olhos estavam em uma mistura estranha de azul com roxo brilhando como nunca, ela estava mais bonita, mas ao mesmo tempo mais assustadora. Quando ela me viu um sorriso apareceu seu rosto, um sorriso que logo em seguida fora substituído por um rosto de preocupação, ela fez um sinal para encontrá-la nos fundos, chamou uma das empregadas para tomar o seu lugar no caixa e foi em direção aos fundos, eu há segui um pouco desconfiado.
Quando cheguei lá ela estava preparando duas cadeiras, uma para mim e uma para ela. Seus olhos estavam brilhando mais do que antes, ela se sentou e esperou que eu sentasse na outra, no momento em que eu sentei, ela sorriu um sorriso que animava qualquer um.
— Então, como foi lá? — perguntou calmamente — já sabe de tudo?
Era difícil de acreditar que ela sabia onde eu estava. Eu sabia que ela e Carlos escondiam algo de mim desde o primeiro contato com fantasmas, mas não sabia que ela seria tão natural falando comigo. Contei a ela tudo, desde o meu primeiro contato com fantasmas até o dia no purgatório, ela escutava pacientemente tudo aquilo que eu dizia, ela não parecia assustada ou impressionada, mas se incomodou quando comentei que aceitara descobrir os assassinos dos fantasmas. Quando terminei, ela soltou um grande suspiro e encostou-se à cadeira, ela parecia triste e ao mesmo tempo aliviada. Nesse ponto eu já percebia que como eu, a Mirya não era humana, queria perguntar a ela, minha fome pela curiosidade lutava arduamente contra minha educação. Como sempre minha educação perdeu.   
— O que é você? —tentei ser o mais educado possível na pergunta, afinal tinha medo dela tirar as presas comer minhas tripas, gostava delas.
— Sou a ultima filha de Marie Laveau, e provavelmente a única filha viva.
— Quem?
— Marie Laveau, uma bruxa que nasceu nos Estados Unidos e fugiu para cá em 1882, após fingir sua morte.
Nunca tinha ouvido sobre essa tal de Marie, mas o fato dela ser uma bruxa significava que Mirya também era, tinha de ser cuidadoso com minhas palavras senão podia explodir virar pó ou simplesmente virar uma barata.
— Não se preocupe — ela disse como se soubesse o que eu estava pensando — não sou uma bruxa completa, sou apenas meio-bruxa, o Maximo que eu faço é materializar pequenas coisas — enquanto ela falava, percebi que varias bolas de gude apareciam em volta dela, ela pegou uma dessas bolinhas e jogou em minha direção, mas antes dela me acertar, ela explodiu em milhões de pequenos fragmentos fazendo com que uma pequena nuvem brilhante me acertasse no peito.
— você sabe o que eu sou? — perguntei.
— Sei, mas é impossível para você saber por mim.
— Como assim?
— Bem, quando você nasceu seus verdadeiros pais fizeram uma maldição, ou benção em você.
Congelei — Como assim meus verdadeiros pais? — perguntei com muita raiva, notei que a cadeira que eu estava sentado estava começando a apodrecer — quem são meus pais?
Ela riu uma risada linda, isso me deixava mais nervoso, o pé da cadeira já era pó, as coisas a minha volta começavam a morrer, tentei me acalmar, respirei fundo, minha cabeça doía, Mirya não ria mais, ela estava em pé ofegante, uma pequena parede me separava dela, A parede estava completamente podre, era como se a parede estivesse lá a centenas de anos. Mirya não parecia assustada, mas sim impressionada, ela respirou fundo e encostou-se à parede.
— Como eu estava dizendo — ela disse enquanto tirava o pó da calça — essa benção, ou maldição te impede de saber o que você realmente é, a não ser que você descubra ou que alguém como você te conte.
Fora o fato de ela ser uma bruxa, nada do que ela falou era novidade, já pensava que aqueles não eram meus pais, mas não queria acreditar. Cheguei perto dela e toquei em seu rosto, ela estava mais bonita do que naquela noite, ela pareceu entender e nos beijamos, era como se todas as coisas estranhas e diferentes que aconteceram nesses últimos dias sumissem, mais uma vez meus instintos me guiaram e antes que desse por mim estava no chão frio com Mirya em meus braços, um sorriso destacado nos nossos rostos.
Levantei, coloquei minha roupa, quando terminei uma mão puxou minha perna, era Mirya, seus cabelos estavam bagunçados, ela estava sorridente, usou meu braço como apoio para levantar, quase automaticamente ela me abraçou chorando.
— Não morra.
— Não irei — falei calmamente, virei e saí tentando imaginar quem eram meus verdadeiros pais.