sábado, 30 de outubro de 2010

Cap 4 - Beautiful ghost

Estava deitado na grama baixa, todo meu corpo pesava, não conseguia me mexer direito, abri os olhos e vi um céu azul coberto por varias nuvens, tinha luz, mas não via um sol, era como se a luz já existisse em tudo lá. Toda a vegetação lá era rasa com exceção de pequenas arvores e algumas pedras, tentei me levantar mas era como se vários carros estivessem em cima de mim, me arrastei para a pedra mais próxima, cheguei à pedra e encostei, era difícil mas tentava me manter acordado. Então vi uma garota de roupas pretas e uma fita em seu cabelo, minha visão estava falhando, agora tudo era um borrão, um vulto preto aparecera em minha frente.
— Coma essa maçã e tudo vai ficar melhor — disse o que parecia uma criança.
Comi a maçã, não era boa parecia estragada, cheia de areia e cascalho, engoli com muito custo, aquilo caiu no meu estômago como uma pedra, mas começava a me sentir melhor, meu corpo começou a ficar mais leve, minha visão começava a voltar, percebi que estava em uma espécie de montanha.
Procurei a criança que me ajudara não via quase nada além da montanha, grama, pedras e árvores, continuei procurando e então encontrei uma menina de mais ou menos dezesseis anos olhava para mim, seu sorriso era perfeito, seus cabelos negros só não chamavam mais a atenção do que seus olhos verdes como a grama a minha volta, ela usava uma roupa preta e uma fita em seu cabelo.
— Onde eu estou? — perguntei.
­Antes de eu terminar minha frase ela me abraçou, ela era pequena e muito leve, por esse motivo ela ficou pendurada em meu pescoço como um colar. Ela se afastou ainda com o sorriso em seu rosto, ela era linda, percebi que usava um par de brincos iguais ao solitário brinco que eu havia encontrado, percebi que o brinco que me levou para esse lugar estranho estava no meu bolso, como apareceu lá, não sabia, mas devia ser importante.
— Bom, as pessoas chamam isso de Limbo, outras de Purgatório, depende da cultura.
Levantei e olhei a minha volta, pelo que eu sabia o purgatório era um lugar para a purificação das almas entes delas irem para o céu, o lugar era lindo, era completamente diferente do que eu imaginava.
— Eu morri? — perguntei.
— Não, você não morreu, na verdade você é uma das poucas pessoas que consegue “visitar” o purgatório.
— Como funciona esse lugar?
— Existem cem andares, os primeiros vinte são os andares “infernais”, os últimos vinte são os andares “celestiais” e os outros sessenta andares são o purgatório. No momento que você morre você é levado a um dos andares do purgatórios, caso você conheça o motivo da sua morte você é julgado no mesmo instante, podendo ir ao inferno ou ao Paraíso, por outro lado caso você desconheça o motivo de sua morte você terá que aprender o motivo de sua morte, é pior parte, ela abaixou a cabeça, nos não podemos nos comunicar com seres humanos, então temos duas opções: A primeira é pedir a uma criatura antiga para descobrir o motivo de nossa morte, a criatura tem total liberdade para fazer o que quiser com a ou as pessoas responsáveis direta ou indiretamente com sua morte.
— Que tipo de criaturas?
Ela olhou para mim como se não acreditasse em o que eu estava falando, depois ela começou a formular uma resposta.
— Bem, vampiros, lobisomens, súcubos, ninfas, espectros, entre outros.
— E a segunda opção?
— A segunda opção é voltar ao mundo do mesmo jeito que morreu, procurando a pessoa que te matou por toda a eternidade. — ela suspirou ­— Você no meu caso é a primeira opção.
Meu coração gelou, ela havia feito um engano, eu era um humano, não podia ser como nos livros infanto-juvenis em que crianças que não tinham pouca ou nenhuma habilidade, descobriam que eram a “única esperança”. Eu era aquela pessoa comum não tinha nada de especial.
— Você fez um engano — avisei ­— Eu sou humano.
— Não, você não é humano, um humano não consegue tocar em um fantasma como eu, você conseguiu tocou, um humano também não consegue vir aqui ao purgatório sem estar morto, que também não é seu caso.
— O que eu sou?­— meu coração estava a mil, minha cabeça estava rodando com toda essa informação.
— Você, bem isso é um mistério, pelo que percebi você é um... — Seus lábios se moveram, mas não conseguia entender a palavra. —... Mas você tem o cheiro de um humano.
— Você pode repetir o que você acha que eu sou?
Ela falou, mas novamente não consegui entender, tentei fazer leitura labial, mas também não conseguia decifrar a palavra, soava como “Kesubnro”.
— Você não consegue me ouvir não — ela perguntou como se já soubesse a resposta.
— Não, e pelo visto você sabe o porquê.
— Parece que você está sobre um juramento­ ­— ela sorriu — você tem que descobrir por si mesmo o que você realmente é.
— Mas como vou descobrir isso?
— Você tem que descobrir por si mesmo, mas caso você me ajude em duas coisas, eu te falo onde encontrar a resposta — seu sorriso estava maior, como se ela tivesse um trunfo para minha assistência.
— O que você quer que eu faça?
— São duas coisas, uma relacionada com a outra, preciso que você a primeira é que você encontre minha irmã, a segunda é que você encontre o ou os responsáveis da minha morte.
Um grito ao longe me impediu de falar, uma mulher que aparentava ter trinta anos veio em minha direção correndo, usava salto alto, saia curta, e uma blusa extremamente decotada. Ela parou e olhou no fundo do meus olhos.
— Me ajude ­— sua voz lembrava aquelas cantoras texanas ­— você tem que achar o motivo da minha morte.
— Calma ai dona — disse a garota com um tom maldoso em sua voz ­— ele vai me ajudar primeiro.
­Ainda pensava o que eu era não era um vampiro, nem um lobisomem, isso eu tinha certeza. As duas começavam a trocar tapas quando voltei à realidade, fui em direção a elas e segurei a mão de cada uma.
— Eu ajudo as duas. Ok?
Ambas acenaram em afirmação com a cabeça. — Agora, por onde eu vou começar essa busca?
— Iremos dividir com você a nossa ultima memória, de quando éramos vivas. — disse a garota.
Nesse momento a mulher colocou sua mão em minha testa.
Estava andando por uma rua, era noite, as casas a minha volta brilhavam refletidas as luzes do poste, uma casa vermelha se destacava das demais. Olhava para as pessoas ao meu redor com desprezo. Meu nome era Margaret, tinha vinte anos e era uma prostituta. Andava pela rua quando avistei um homem, fui a sua direção, ele sorria e era muito bonito. Enquanto andava em sua direção vi alguns pivetes brincando com uma lata, cheguei perto dele, seu nome era Gustavo, ele mostrou o dinheiro, queria que eu fugisse com ele, de repente um grito, sangue escorria pelo meu rosto, confusão, o mundo virava um borrão, tudo se apagava, um homem agora agonizava em meu lado segurando minha mão, mas não tinha mais jeito, estava morta.
Suava frio, meu coração estava acelerado, olhava para meu rosto procurando o sangue, mas não encontrava a ferida, minha cabeça estava pesada, meus olhos estavam vermelhos, a grama ao redor de mim estava morta, a pedra onde eu escorava estava trincada, parte dela era apenas areia. Sentei no chão, vi que a mulher a minha estava desmaiada.
Demorei um pouco admito, mas consegui me recuperar, tudo fazia sentido agora, não era eu andando por aquela rua escura, mas sim aquela mulher que se encontrava bem a minha frente. Olhei diretamente para ela, era definitivamente ela, parecia um pouco mais velha e seus cabelos pareciam maiores, mas era ela, isso levantou mais uma questão, será que fantasmas envelheciam? Como minha curiosidade era meu ponto fraco não consegui me segurar.
— Fantasmas envelhecem? ­— perguntei a pequena aquela garota que assistia pacientemente tudo aquilo.
— Podemos mudar nossa idade aqui no purgatório, crescemos como pessoas normais, até que estejamos na idade que quisermos.
— Quantos anos você tem?
— Dezesseis anos, doze viva anos e quatro anos morta.
Fazia sentido, se ela quisesse alguém morta só podia ser por que essa pessoa podia ser morta, ou seja, ela não podia ter uma quantidade tão grande de anos morta, senão tudo aquilo era perda de tempo.
— Minha vez ­— disse a garota — quando eu apagar como aquela ali, você sairá daqui e voltará para sua casa, então procure pela casa vermelha perto da praça central e sempre leve o brinco em seu bolso.
Dizendo isso ela colocou sua mão em meu rosto, subitamente meu corpo começou a formigar e voltei a ficar tonto.
Era de manhã, brincava com minha irmã gêmea no quintal, meu nome era Tabatha, minha mãe estava sentada assistindo nossa brincadeira, parecia feliz, mas escondia alguma coisa por trás daquela felicidade, meu pai não estava lá, ele estava no bar tomando cerveja como de costume.
Brincamos até o almoço e depois até o anoitecer, com as barrigas recheadas de biscoitos macios que tinham acabado de sair do forno. Começava a ficar escuro demais para qualquer brincadeira então fomos para dentro da minha casa, uma casa grande e vermelha como as de bonecas. A cena então mudou, estava no meu quarto, ouvia gritos vindos de fora, um som de um revolver sendo carregado, meu coração começava a acelerar, um tiro silencioso, sem grito apenas o “psiut” da bala saindo do silenciador. Pensava em um jeito de sair, olhei para a janela do meu quarto, era no primeiro andar então eu não me machucaria muito, minha irmã pareceu entender minha idéia e começou a abrir a janela. Tentei levantar, mas no momento em que meus pés tocavam o chão outro “psiut” e agora minha irmã se encontrava morta no chão, virei para olhar quem a havia matado, e no momento em que meus olhos entrariam em contado com a pessoa, dois tiros um no meu estômago e outro em meu braço, meu corpo doía, apenas via um vulto vindo em minha direção tudo se apagava, tinha morrido.

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