segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Cap 5 - American Witch

Acordei, estava na minha cama, minha verdadeira cama, tudo estava normal, exceto pelo turbilhão de pensamentos confusos e perguntas sem respostas que vinham a mim. Quem eu sou? Porque eu não consegui ouvir o que eu era? Como eu iria encontrar a irmã da garota? E o assassino da Margaret?
“Vou descobrir cada uma dessas respostas”, pensei “nem que tenha que arrancar a informação das pessoas” minha curiosidade fazia coisas impressionantes, odiava quando as pessoas falavam em enigmas de duplo-sentido, essas pessoas deviam ser queimadas vivas.
O brinco na minha mão começou a queimar, e dentro da minha cabeça ouvi uma voz familiar dizer “Não perca o foco”, era Tabatha, parecia que ela sabia o que eu estava pensando. Aquilo me deixava preocupado, e se eu não achasse o assassino, viveria com um fantasma colado nos meus pensamentos até minha morte, se é que eu morria, afinal não era humano.
Coloquei o brinco no meu bolso e fui em direção a porta, minha mãe não estava em casa, então bebi um copo de água, sentei na cadeira e tentei entender como as duas mulheres do purgatório haviam sido assassinadas. Comecei por Margaret, tentei me lembrar da rua, ela me era familiar, então me lembrei, a casa vermelha era a mesma onde a Tabatha vivia, e era perto da praça central. Isso era pouco, mas pelo menos eu tinha por onde começar. Olhei para o calendário com medo de mais dez dias terem passado, mas dessa vez o estrago não tinha sido tão grande, apenas dois dias tinham se passado. Dei uma ultima olhada naquela casa e prometi a mim mesmo que só voltaria para lá quando soubesse quem eu era.
Saí de casa, decidi passar pela padaria do pai da Mirya, não só para poder pegar um pouco de comida, mas também para dizer adeus. Chegando lá vi Mirya no caixa atendendo alguns pedidos, ela estava diferente, seus cabelos que antes chegavam as suas pernas agora mal passavam do seu ombro, seus olhos estavam em uma mistura estranha de azul com roxo brilhando como nunca, ela estava mais bonita, mas ao mesmo tempo mais assustadora. Quando ela me viu um sorriso apareceu seu rosto, um sorriso que logo em seguida fora substituído por um rosto de preocupação, ela fez um sinal para encontrá-la nos fundos, chamou uma das empregadas para tomar o seu lugar no caixa e foi em direção aos fundos, eu há segui um pouco desconfiado.
Quando cheguei lá ela estava preparando duas cadeiras, uma para mim e uma para ela. Seus olhos estavam brilhando mais do que antes, ela se sentou e esperou que eu sentasse na outra, no momento em que eu sentei, ela sorriu um sorriso que animava qualquer um.
— Então, como foi lá? — perguntou calmamente — já sabe de tudo?
Era difícil de acreditar que ela sabia onde eu estava. Eu sabia que ela e Carlos escondiam algo de mim desde o primeiro contato com fantasmas, mas não sabia que ela seria tão natural falando comigo. Contei a ela tudo, desde o meu primeiro contato com fantasmas até o dia no purgatório, ela escutava pacientemente tudo aquilo que eu dizia, ela não parecia assustada ou impressionada, mas se incomodou quando comentei que aceitara descobrir os assassinos dos fantasmas. Quando terminei, ela soltou um grande suspiro e encostou-se à cadeira, ela parecia triste e ao mesmo tempo aliviada. Nesse ponto eu já percebia que como eu, a Mirya não era humana, queria perguntar a ela, minha fome pela curiosidade lutava arduamente contra minha educação. Como sempre minha educação perdeu.   
— O que é você? —tentei ser o mais educado possível na pergunta, afinal tinha medo dela tirar as presas comer minhas tripas, gostava delas.
— Sou a ultima filha de Marie Laveau, e provavelmente a única filha viva.
— Quem?
— Marie Laveau, uma bruxa que nasceu nos Estados Unidos e fugiu para cá em 1882, após fingir sua morte.
Nunca tinha ouvido sobre essa tal de Marie, mas o fato dela ser uma bruxa significava que Mirya também era, tinha de ser cuidadoso com minhas palavras senão podia explodir virar pó ou simplesmente virar uma barata.
— Não se preocupe — ela disse como se soubesse o que eu estava pensando — não sou uma bruxa completa, sou apenas meio-bruxa, o Maximo que eu faço é materializar pequenas coisas — enquanto ela falava, percebi que varias bolas de gude apareciam em volta dela, ela pegou uma dessas bolinhas e jogou em minha direção, mas antes dela me acertar, ela explodiu em milhões de pequenos fragmentos fazendo com que uma pequena nuvem brilhante me acertasse no peito.
— você sabe o que eu sou? — perguntei.
— Sei, mas é impossível para você saber por mim.
— Como assim?
— Bem, quando você nasceu seus verdadeiros pais fizeram uma maldição, ou benção em você.
Congelei — Como assim meus verdadeiros pais? — perguntei com muita raiva, notei que a cadeira que eu estava sentado estava começando a apodrecer — quem são meus pais?
Ela riu uma risada linda, isso me deixava mais nervoso, o pé da cadeira já era pó, as coisas a minha volta começavam a morrer, tentei me acalmar, respirei fundo, minha cabeça doía, Mirya não ria mais, ela estava em pé ofegante, uma pequena parede me separava dela, A parede estava completamente podre, era como se a parede estivesse lá a centenas de anos. Mirya não parecia assustada, mas sim impressionada, ela respirou fundo e encostou-se à parede.
— Como eu estava dizendo — ela disse enquanto tirava o pó da calça — essa benção, ou maldição te impede de saber o que você realmente é, a não ser que você descubra ou que alguém como você te conte.
Fora o fato de ela ser uma bruxa, nada do que ela falou era novidade, já pensava que aqueles não eram meus pais, mas não queria acreditar. Cheguei perto dela e toquei em seu rosto, ela estava mais bonita do que naquela noite, ela pareceu entender e nos beijamos, era como se todas as coisas estranhas e diferentes que aconteceram nesses últimos dias sumissem, mais uma vez meus instintos me guiaram e antes que desse por mim estava no chão frio com Mirya em meus braços, um sorriso destacado nos nossos rostos.
Levantei, coloquei minha roupa, quando terminei uma mão puxou minha perna, era Mirya, seus cabelos estavam bagunçados, ela estava sorridente, usou meu braço como apoio para levantar, quase automaticamente ela me abraçou chorando.
— Não morra.
— Não irei — falei calmamente, virei e saí tentando imaginar quem eram meus verdadeiros pais.

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