sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Cap 6 - Why Don't Lesbians Love Me?

Peguei o metrô, procurava no fundo da minha mente quem eram os meus pais, nada me ocorria, nenhuma imagem, nenhuma lembrança, nada. Entrei no vagão e tive sorte de achar um lugar vago. Minha sorte acabou no momento em que eu vi quem estava no meu lado, lá estava Claire com uma expressão preocupada, usava uma saia curta e uma blusa que ganharia babas alheias de muitos homens, pena que ela era um “desperdício” para eles. Fora isso não via nenhuma diferença nela como vi na Mirya, mas seu anel de noivado estava reluzindo fortemente.
No momento em que ela me viu seu rosto mudou completamente, parecia que eu era sua esperança.
— Nick, era exatamente com você que eu queria falar — ela parecia aliviada.
— Sim?
— É um pedido complicado — ela mexia na sua saia parecendo desconfortável — é que, bem eu e a Marie estávamos conversando e, nós queremos ter um filho.
“Momento errado” pensava, era como se o mundo quisesse me atrasar aquele dia.
— E bem — ela continuou ignorando minha reação — como nós não podemos ter filhos, estávamos pensando se você podia... — ela abaixou a cabeça — doar um pouco de esperma para nós.
Não tinha como eu dizer não, convivi meus últimos três anos com Claire e Marie e apesar de tudo, acabei criando uma boa relação com elas. Lembrei-me do dia em que descobri que elas eram lésbicas, estávamos no ultimo horário, na aula de educação física, tinha dado uma fugida quando ouvi um barulho, fui em direção ao som com o Maximo de cuidado possível. Cheguei ao outro lado da escola e vi as duas, estavam deitadas na grama nuas se beijando, me escondi e esperei para ver se isso acontecia novamente (Tinha dezesseis anos, e vamos admitir duas mulheres nuas no chão era difícil de sua imaginação não agir), infelizmente elas começaram a colocar a roupa de novo. Deprimido voltei à aula um pouco depois delas, que agiam normalmente como se nada tivesse acontecido. Um ano se passou e eu já tinha esquecido o ocorrido, afinal elas não comentavam nada sobre isso, até em um dia logo no primeiro horário eu fingi passar mal para sair de sala, quando estava andando pelas dependências da escola desviando dos inspetores de corredor, dei de cara com uma sala vazia, no ultimo andar da escola. Lá estavam elas ambas nuas, com uma expressão de cansaço, fiquei com raiva, admito, duas mulheres tão bonitas, fazendo sexo em uma sala no ultimo andar, e eu tinha perdido, preferiria morrer na ignorância. Esperei que ambas colocassem as roupas antes de entrar na sala, no momento em que elas terminavam de colocar o uniforme eu entrei tentando ser o mais silencioso possível, sem que elas me notassem fui em direção a uma das carteiras e sentei, como se nada tivesse acontecendo, elas ainda não tinham me notado. Então perguntei, tentando parecer que eu tinha tirado um cochilo lá na sala (como fazia muitas vezes).
— O-o-oi, quem está ai? — perguntei.
Ambas estavam congeladas, como se não acreditassem que eu estava lá, mal estava aguentando, segurei a gargalhada, a cara delas era impagável, respirei fundo e esperei a resposta delas. Nenhuma resposta, elas ainda estavam lá paradas sérias, com medo de falar qualquer coisa, reforcei a pergunta
— Claire, Marie são vocês? Porque estão aqui?Porque vocês tinham que me acordar?
Nada, eu mal estava aguentando ficar sério, ia soltar uma gargalhada a qualquer momento. Marie começou a cochichar com Claire, elas ia tentar fugir, o que era ridículo, além de eu estar mais perto da porta eu era muito mais rápido que elas.
— Somos nós Nick estávamos te procurando, tem prova de matemática agora temos que ir para sala — Claire falava sem muita convicção.
— Mas hoje não tem aula de matemática.
Elas pareciam ainda mais desconfortáveis, não ia mais aguentar ficar sério, minha cabeça já doía de tanto segurar as risadas, eu sabia que elas iam falar a verdade, então uma gargalhada solitária escapou de mim, comecei a rir, elas não entendendo o porquê também começaram a rir, parecíamos três idiotas rindo lá. Respirei fundo e mudei completamente meu humor, fiquei sério e falei com toda minha calma — Por que vocês não contaram isso para nós antes?
— Não queríamos que achassem nada diferente de nós, vivemos em um mundo de preconceitos, temíamos perder nossa amizade com vocês.
— Não se preocupe guardo esse segredo desde o ano passado não vou falar para ninguém.
— Como assim sabe desde o ano passado?
Contei toda a história do ano passado, e como não contei a ninguém aquilo, elas pareciam ao mesmo tempo preocupadas, por eu saber sobre elas, e aliviadas por eu não ter contado.
— Por favor, não conte a ninguém sobre isso — ambas comentaram em uníssono.
— Não precisam se preocupar, não vou contar — nesse momento uma forte amizade crescia entre nós, arranjei um quarto na minha casa para que elas pudessem fazer o que quiserem sem ninguém incomodar. Sempre as apoiei afinal eu era a o único, os pais delas eram padres então não aceitavam esse tipo de compromisso, eles ás expulsaram de casa dois meses depois, eu e minha mãe acolhemos elas. Ambas trabalhavam até a noite e aproveitavam a madrugada, não me deixando dormir com os barulhos da cama.
Agora lá estava Claire me fazendo um pedido como esse, eu sabia que era errado, afinal não era humano, mas não podia dizer não, ela era uma das poucas pessoas que eu confiava e eu sabia que sua amizade com o Carlos não chegaria nem aos pés como sua amizade comigo, eu era sua única escolha.
— Ok, vamos até o banco de esperma.
Seus olhos brilhavam intensamente, ela era linda, seus cabelos ruivos longos, eram perfeitos, seu corpo era de rara perfeição e seus olhos castanhos brilhavam na luz fraca do vagão.
— Muito obrigada Nick, não sei como posso te agradecer por toda a ajuda e apoio que você deu a mim e a Marie — ela me puxou em direção a porta do vagão, saímos e fomos por um caminho estranho, nunca tinha ido naquela parte da cidade, as casas eram todas iguais, parecia um condomínio fechado. Fomos andando por alguns minutos, até acharmos uma casa branca com o letreiro “Banco de Esperma Double Ball”, eu ri, nunca tinha pensado que eles iam fazer disso uma coisa divertida. Cheguei lá e preenchi a ficha, nada de mais, apenas o padrão, entrei na salinha e recebi um copinho, duas revistas e um DVD, fiz o que deveria pensando nos bons momentos que tive com Mirya.
— Pronto — disse enquanto saia da salinha — agora é com vocês.
Ela me abraçou, um abraço apertado, eu tinha noção do que eu tinha feito, prometi a mim mesmo que se tudo desse certo e a criança nascesse eu ia contar para ela o que realmente ela, ou ele era (caso eu descobrisse). Seu rosto coberto de lagrimas molhava as mangas da minha blusa, eu a abracei, e ficamos lá abraçados, enquanto minha mente ficava perdida naqueles longos cabelos ruivos.

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